Avaliação escolar: limites e
possibilidades
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Clarilza Prado de Souza
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Alguma vez você já pensou que a
avaliação fosse parecida com um remédio? Ideia estranha, não é? Mas, neste texto, você vai perceber que a
avaliação, assim como os remédios, tem propriedades, pode produzir reações
adversas e efeitos colaterais. E ainda mais: que devem ser tomadas
precauções ao utilizá-la, que existem indicações e contra-indicações,
assim como há uma maneira correta de empregá-la (posologia).
Confira o texto e faça uma reflexão sobre a forma como você tem utilizado esse remédio. |
UTILIZAR ACORDO COM AS ESPECIFICAÇÕES. NÃO OBTENDO OS
RESULTADOS ESPERADOS, APROFUNDAR ESTUDOS NA ÁREA.
INFORMAÇÕES
TÉCNICAS
PROPRIEDADES A avaliação
escolar, também chamada avaliação do processo ensino-aprendizagem ou avaliação
do rendimento escolar, tem como dimensão
de análise o desempenho do aluno, do professor e de toda a situação de ensino
que se realiza no contexto escolar.
Sua principal função 6 subsidiar
o professor, a equipe escolar e o próprio sistema no aperfeiçoamento do ensino.
Desde que utilizada com as cautelas previstas e já descritas em bibliografia
especializada, fornece informações que possibilitam tomar decisões sobre quais
recursos educacionais devem ser organizados quando se quer tomar o ensino mais
efetivo. É, portanto, uma prática valiosa, reconhecidamente educativa, quando
utilizada com o propósito de compreender o processo de aprendizagem que o aluno
está percorrendo em um dado curso, no qual o desempenho do professor e outros
recursos devem ser modificados para favorecer o cumprimento dos objetivos
previstos e assumidos coletivamente na Escola. O processo avaliativo parte do pressuposto de
que se defrontar com dificuldades é inerente ao ato de aprender. Assim, o
diagnóstico de dificuldades e facilidades deve ser compreendido não como um veredito
que irá culpar ou absolver o aluno, mas sim como uma análise da situação
escolar atual do aluno, em função das condições de ensino que estio sendo oferecidas.
Nestas termos, são questões típicas de avaliações:
• Que problemas o aluno vem
enfrentando?
• Por que não conseguiu alcançar
determinados objetivos?
• Qual o processo de aprendizagem
desenvolvido?
• Quais os resultados
significativos produzidos pelo aluno?
A avaliação tem sido utilizada
muitas vezes de forma reducionista, como se avaliar pudesse limitar-se á aplicação
de um instrumento de coleta de informações. É comum ouvir-se "Vou fazer
uma avaliação", quando se vai aplicar uma prove ou um teste. Avaliar
exige, antes que se defina aonde se quer chegar, que se estabeleçam os
critérios, para, em seguida, escolherem-se os procedimentos, inclusive aqueles
referentes á coleta de dados.
Além disso, o processo avaliativo
não se encerra com este levantamento de informações, as quais devem ser comparadas
com os critérios e julgadas a partir do contexto
em que foram produzidas. Somente assim elas
poderão subsidiar o processo de tomada dede tomada de decisão quanto a que
medidas devem ser previstas para aperfeiçoar o processo de ensino, com vistas a
levar o aluno a superar suas dificuldades.
A avaliação tem sido limitada
também pela hipertrofia que o processo
de atribuição de notas ou conceitos assumiu na administração escolar. Definir
através de nota ou conceito as dificuldades e facilidades do aluno á apenas um
recurso simplificado que identifica a posição do aluno em uma escala. Usado com
precaução, este recurso não deveria produzir efeitos colaterais Indesejáveis.
Contudo, acreditar, por exemplo, que uma nota 6 ou um conceito C possa, por si,
explicar o rendimento do aluno e justificar uma decisão de aprovação ou
reprovação, sem que se analisem o significado desta nota no processo de ensino,
as condições de aprendizagem oferecidas, os instrumentos e processos de coleta
de dados empregados para obtenção de tal nota ou conceito, a relevância deste
resultado na continuidade da programação do curso, i reduzir de forma
inadequada o processo avaliativo; é, sobretudo, limitar a perspective de
análise do rendimento do aluno e a possibilidade do professor em compreender ó
processo que coordena em sala de aula.
Reações Adversas e Efeitos Colaterais: Pesquisas realizadas na área têm demonstrado consequências
psicológicas e sociais adversas em função do uso da avaliação de forma
classificatória, punitiva s autoritária. A avaliação, quando apenas praticada
de modo classificatório, supõe ingenuamente que se possa realizar esta
atividade educativa de forma neutra, como se não estivessem implícitos a
concepção de Homem que se quer formar s o modelo de sociedade que sequer
construir em qualquer prática educativa. A classificação cristaliza e
estigmatiza um momento da vida do aluno, sem considerar que ele se encontra em
uma fase de profundas mudanças. É uma forma unilateral e, portanto,
autoritária, que não considera as condições que foram oferecidas para a aprendizagem.
Pune justamente aqueles alunos que, por sofrerem uma situação social adversa,
necessitam de que a Escola lhes proporcione meios adequados que minimizem suas
dificuldades de aprendizagem. A avaliação apenas como instrumento de
classificação tende a descomprometer a equipe escolar com o processo de tomada
de decisão para o aperfeiçoamento do ensino, que é s função básica da
avaliação.
Precauções: A avaliação escolar não deve ser empregada quando não
se tem interesse em aperfeiçoar o ensino e, consequentemente, quando não se
definiu o sentido que sena dado aos resultados da avaliação. A avaliação
escolar exige também que o professor tenha claro, antes de sua utilização, o
significado que ele atribui a sua ação educativa.
Contra-Indicações:
A avaliação é contra-indicada como único instrumento para decidir sobre
aprovação e reprovação do aluno. O seu uso somente para definir a progressão
vertical do aluno conduz a reduções e descompromissos. A decisão de aprovação
ou retenção do aluno exige do coletivo da Escola uma análise das possibilidades
que essa Escola pode oferecer para
garantir um bom ensino. A
avaliação escolar também é contra-indicada para fazer um diagnóstico sobre a
personalidade do aluno, pois sua abrangência limita-se aos objetivos do ensino do
programa escolar. A avaliação escolar é contra-indicada para fazer prognóstico
de sucesso na vida. Contudo, o seu mau emprego pode expulsar o aluno da Escola,
causar danos em seu autoconceito, impedir que ele tenha acesso a um
conhecimento sistematizado e, portanto, restringir a partir da( suas
oportunidades de participação social.
Indicações: A avaliação escolar é indicada a professores
interessados no aperfeiçoamento pedagógico de sua atuação na Escola. É
fundamental sua utilização para indicar o alcance ou não dos objetivos de
ensino. Recomenda-se então sua aplicação não só para diagnosticar as
dificuldades e facilidades do aluno, como, principalmente, para compreender o
processo de aprendizagem que ela está percorrendo. Utilizada de forma
transparente e participativa, permite também ao aluno reconhecer suas próprias necessidades,
desenvolver a consciência de sua situação escolar e orientar seus esforços na
direção dos critérios de exigência da Escola.
Posologia:
A avaliação deve ser utilizada com o apoio de múltiplos instrumentos de coleta
de informações, sempre de acordo com as características do plano de ensino,
isto é, dos objetivos que se está buscando junto ao aluno. Assim, conforme o
tipo de objetivo, podem ser empregados trabalhos em grupos e individuais,
provas orais e escritas, seminários, observação de cadernos, realização de
exercícios em classe ou em casa e observação dos alunos em classe. Não
restrinja o levantamento de informações para realização da avaliação ao final
de um bimestre letivo. Informações descontinuadas e distanciadas umas das outras
podem modificar a sintomatologia do aluno e do professor quanto a condições de
aprendizagem e ensino. Após a obtenção das informações, analise-as de acordo
com os critérios preestabelecidos, com as condições de ensino oferecidas, e
tome as decisões que julgar satisfatórias para a melhoria da qualidade da Educação
escolar.